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Como a Inteligência Artificial está ajudando indígenas em aldeias isoladas

  • Foto do escritor: Agência Marandu
    Agência Marandu
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

Nos últimos meses, a Inteligência Artificial tem sido alvo de polêmicas. Demissões em massa, vídeos e imagens falsas, respostas prontas sem pensar. Para muitos, a tecnologia se tornou sinônimo de distanciamento, insegurança e desumanização.


Mas há quem esteja usando a IA para aproximar — e cuidar.


No interior do Brasil, em aldeias acessíveis apenas por caminhonete, barco ou balsa, a IA tem se tornado uma aliada poderosa da saúde indígena. Com equipamentos portáteis, energia solar e internet via satélite, o projeto Aldeia em Foco consegue realizar exames oftalmológicos de qualidade — com o apoio de inteligência artificial para triagem, diagnóstico e prescrição.

A gente consegue pegar equipamentos portáteis que antes dependiam de caminhões para ser locomovidos ao ponto de referência, hoje a gente consegue levar em duas, três malas de 23 kg.”

— Caio Abujamra, presidente do projeto Aldeia em Foco


Inteligência artificial a serviço da visão

A IA não substitui o humano — ela potencializa o cuidado. No Aldeia em Foco, ela é parte essencial do modelo que permite realizar exames oftalmológicos completos no meio da floresta, com agilidade, precisão e dignidade.



Com o uso de equipamentos portáteis e conectados via internet satelital, o projeto realiza:


Retinografia com IA: captura imagens do fundo do olho e ajuda a detectar sinais precoces de doenças como glaucoma e retinopatia diabética.


Lâmpada de fenda com IA: identifica alterações na córnea e na lente ocular, como catarata e pterígio.


Autorrefrator portátil: mede o grau dos olhos e, com auxílio da IA, sugere a refração aproximada — que é refinada pelo oftalmologista presente.


Esses exames, aliados a protocolos organizados de triagem e atendimento, permitem diagnosticar com segurança e rapidez, mesmo em regiões sem estrutura hospitalar.


Diagnóstico que respeita território, cultura e tempo

A tecnologia se adapta à realidade das comunidades — não o contrário. Esse é o diferencial de um projeto que entende que enxergar bem é uma necessidade funcional, mas também uma ponte para a autonomia e a cultura.


Nilson Grimm, coordenador e linha de frente do projeto, Comenta sobre a flexibilidade do projeto:

São equipamentos totalmente portáteis onde a gente consegue montar em qualquer local: dentro de uma oca, debaixo de uma árvore, dentro de uma escola. São equipamentos pequenos, onde a gente trabalha ele com a internet móvel e bateria de energia solar.



O projeto entrega os óculos no mesmo dia, com armações resistentes e modelos variados, respeitando a estética e a individualidade de cada paciente.


Mais de 6.000 óculos já foram entregues, com mais de 10.400 atendimentos realizados em diferentes regiões do Brasil.


E se essa tecnologia virasse política pública?

O modelo criado pelo Aldeia em Foco tem escala, dados e comprovação. Agora, o desafio é transformá-lo em política — para que o cuidado visual chegue a todas as comunidades que precisam.


O projeto já demonstrou que é possível realizar triagens completas com eficiência e custo reduzido.


Com apoio do BID e parcerias internacionais, o modelo está pronto para ser replicado.


A meta é clara: incluir a saúde ocular na atenção primária do SUS, como prevê a própria OMS.

“Se a gente conseguir provar pro governo que isso faz diferença e tem gente sendo beneficiada na ponta, e que o governo assuma isso como uma política pública e uma saúde primária, a gente consegue que todos os DSEIs do país — que são 34 — tenham uma unidade dessa.”— Caio Abujamra.

(DSEI = Distrito Sanitário Especial Indígena, unidade regional do SUS para atendimento de povos indígenas)


Perspectiva Futura

A Inteligência Artificial é uma ferramenta e pode ser usada de várias formas — boas e ruins. No Aldeia em Foco, ela foi colocada no lugar certo: ao lado do cuidado humano. Longe das promessas genéricas do “futuro da saúde”, a IA aqui é uma ferramenta concreta para resolver um problema antigo e invisível: a exclusão visual de povos indígenas.


Num país onde mais de 6,5 milhões de pessoas vivem com problemas de visão — muitas por causas evitáveis —, iniciativas como essa provam que é possível usar a tecnologia para restaurar dignidade e ampliar direitos, mesmo onde o Estado muitas vezes não chega.


Ver bem não é luxo. É aprender, trabalhar, pescar, caçar, ensinar, cuidar dos filhos. É manter viva uma cultura inteira.


E se a tecnologia deixasse de ser apenas sobre o que ela pode fazer — e passasse a ser sobre quem ela pode alcançar?


 
 
 

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